16 de agosto de 2012

Próxima Sessão: Clube da Luta

CINECLUBE DARCY RIBEIRO apresenta Clube da Luta (Fight Club, 1999, EUA/Alemanha,139 min, cor)
Direção: David Fincher. Roteiro: Jim Uhls, sobre romance de Chuck Palahniuk. Fotografia: Jeff Cronenweth. Montagem: James Haygood. Música: The Dust Brothers. Elenco: Brad Pitt, Edward Norton, Helena Bonham Carter e outros.


Contra a sociedade dos padrões, liberar os instintos reprimidos


"[...] Foi com esse trio central de atores [Pitt. Norton e Carter] que, na virada do século, David Fincher encarou a tarefa de dirigir um dos filmes mais cultuados da atualidade [adaptado do romance Fight Club, escrito em 1996 por Chuck Palahniuk e roteirizado por Jim Uhls].
É bom que se diga que o atual reconhecimento do filme foi uma conquista bem distante das opiniões da época de lançamento. Clube da Luta chegou a assustar o público [e a crítica], ficou pouco tempo em cartaz e mesmo hoje ainda é incompreendido e incompreensível para muitos. O fato é que Fincher, que já contava com um clássico no currículo, Seven (no qual dirigiu o próprio Pitt), sabia o que fazia e que o tempo se encarrega de fazer justiça, pelo menos em alguns casos. [...]
Embora clandestino, e assim devendo continuar, o Clube ganha novos adeptos a cada noite e se torna um sucesso. Jack e Tyler não são os únicos homens dispostos a dar vazão às suas necessidades mais primitivas por meio de socos e mais socos. A pista deixada por Palahniuk então faz sentido: remete ao pensamento anarquista, mais precisamente à crítica anarco-primitivista que prega o retorno aos estados primitivos de vida como forma de libertação de sistemas opressores. Os adeptos desta linha de pensamento desprezam a sociedade industrial, o modo de vida consumista. Para eles, as relações de trabalho e as próprias regras de convivência social pervertem a essência natural do homem, ao inibir seus instintos e vinculá-los a uma cultura que os padroniza."

Planos de desconstrução anárquica

"O que não fica claro é exatamente como se dá o desdobramento de personalidades. Qual teria sido a formação de Jack [interpretado por Edward Norton]? Suas reações são meramente instintivas ou reflexo de experiências vividas? Jack não tem um passado declarado e isso é intencional. De qualquer forma, fica caracterizada a existência de um estado patológico que se impõe, como instintos reprimidos que não podem ser mais contidos.
Helena Bonham Carter
Marla [Helena Bonham Carter] surge como o ponto de convergência entre Jack e Tyler [Brad Pitt], e o conflito se estabelece entre estes quando o segundo começa a dar sinais de que seus planos vão muito além da criação do clube, quando passa a organizar seu 'exército' pessoal e o 'Projeto Caos'. A revolução anárquica deixa de ser pessoal e passa a atacar as instituições, assumindo o projeto desconstrutivo da realidade estabelecida. Assim, as divergências entre Jack e Tyler remetem à eterna luta entre o homem civilizado e o ser primitivo que habita seu inconsciente.
A história combina muito bem a narcolepsia (distúrbio do sono de ordem neurológica) e a anarquia, gerando uma obra inteligente que trata, em essência, de transcendência e libertação, de romper com os ditames opressores de um modo de vida ao qual nos acostumamos a seguir e que nos parece o único possível. O tema, extremamente sério, é desenvolvido com muita ironia, doses certeiras de puro humor negro e coroado por uma montagem que surpreende. A lição de moral não é explícita [...] e pode até passar totalmente desapercebida."


Brad Pitt e Edward Norton
Bizarrice e surrealismo
"Os atores fizeram um ótimo trabalho, estão completamente à vontade na pele de seus personagens. Carter é a tradução mais perfeita de um Tim Burton de saias. A canastrice que Pitt empresta a Tyler o torna de uma vilanice quase imperceptível. Já Norton é especialista em interpretar tipos desajustados, tornando-os adoráveis. Faz isso misturando modos transgressores a uma doçura cativante. [...] Também merecem nota a participação de Meat Loaf e do até então desconhecido Jared Leto.
A beleza visual não é uma das características de Clube da Luta. David Fincher construiu um filme violento, esteticamente feio, com cenários, situações e imagens beirando o bizarro e uma surrealidade de mau gosto em certos momentos. Os efeitos sonoros, que chegaram a concorrer ao Oscar, são cheios de nuances e mesmo sons quase imperceptíveis em meio à trilha sonora que caiu sob medida. Fincher brinca com mensagens subliminares, tanto visuais quanto sonoras, e o filme chega a ser contraditoriamente belo ao extremo pela originalidade com que retrata a situação humana.
No geral, é uma produção ousada e corajosa, onde tudo soa como uma enorme provocação ao público — que, após relutar, rendeu-se à admiração, fazendo justiça a um trabalho notável" (Helena Novais, 16/10/2008, www.cineplayers.com/critica.php?id=1456).



CINECLUBE DARCY RIBEIRO
Depois de um grande filme, sempre um bom debate
Data: sábado, dia 18 de agosto de 2012
Hora: 13h
Local: Sala Florestan Fernandes do Casarão (r. General Jardim, 522, próximo à estação República do metrô)